Presta atenção: se você olhar bem, aqui no Jobi tem um monte de gente que qualquer um de nós dois poderia namorar. Olha naquela mesa, a Roberta que estudou com o André na PUC, que o Rafael pegou naquela chopada de Desenho, lembra? Eu poderia namorar com ela. Ela é muito gata, e eu acho que é muito inteligente. Em princípio, eu não preciso de nada além disso. O que não dá mais é ficar rodando de bar em bar, nessas boates de merda e nas festinhas na esperança de conhecer a nova mulher da minha vida. Eu não estou aproveitando nada; fico só caçando, procurando, chegando, pegando e no dia seguinte deixo tudo de lado. É muito gasto de tempo, energia e dinheiro à toa.
Mais do que isso, essa invenção de alma-gêmea é a mesma coisa que a história do Don Juan. A mesmíssima coisa. Só que ao contrário. Não ri que é sério. O cara que sai pegando todo mundo, dizendo que não precisa de ninguém, que não quer se comprometer, no fundo é o mesmo que diz que encontrou a mulher da vida. A mesma babaquice. Só que um não encontra ninguém e o outro encontrou alguém pra sempre. Meu irmão, as duas possibilidades são terríveis! Eu quero poder me apaixonar por várias mulheres, tentar com várias, casar com várias. Esse negócio de ter um monte ou ter uma exata pra viver pra sempre é muito angustiante. Além do mais, o Don Juan sempre acaba se apaixonando por uma. Lembra do Marcelo? E o casadão sempre acaba se apaixonando por outras. Ah! Disso tem um monte de exemplos!
Eu me orgulho de ser autêntico. Tive cinco namoradas, quis casar com duas, casei com uma, fui apaixonado por todas e amei três. Eu e a Sofia terminamos há sete meses e não tenho a mínima idéia de quanto tempo vai demorar pra eu começar a namorar. E isso é complicado, você não viu o Paulo? O maluco ficou tão desesperado que quase começou a namorar só pra não ficar mais um mês solteiro. Ia namorar aquela baixinha só pra namorar. Deu sorte que aos quinze minutos do segundo tempo da prorrogação conheceu a Maria. Estão felizes de dar gosto. Parecem que nasceram um para o outro. Eu prefiro não ter que passar por esse desespero.
Pra mim, casamento quando dá certo é porque a amizade deu certo. As pessoas passam cinqüenta anos juntas porque são amigas e não namorados. É a maior balela esse conselho chavão de que estão juntos porque são eternos namorados. Isso é impossível. Namoro é período de reconhecimento, como no início de uma luta de boxe. Você fica observando como o outro reage aos golpes, aprende os atalhos, descobre os pontos fortes e fracos; vai se adaptando. Sem adaptação, é fim de papo. Depois que se adapta, não é mais namoro, e sem amizade já era também, meu irmão. Só a amizade pode proporcionar tantas coisas que são suficientes para manter um relacionamento vivo durante muito tempo.
Nem eu quero ficar pensando em casamento, cara. Longe de mim! Mas é que uma coisa vai levando a outra, você sabe como é… Você entendeu a história de alma-gêmea? Já escutou "Love will tears us apart" do INXS? É que tem gente que não entende. Eu explico, e não entendem…
(Conto de João Paulo Duarte)