quinta-feira, 26 de maio de 2011

Aos amigos, Tainha!

...“Sempre havia hospitalidade em todos os lugares.
Se recolhiam as pessoas, quando chegava a noite,
nos engenhos, nas casas das canoas.
Se recebia todo mundo que aparecia por lá.
 
Comida?
Sempre se dava um jeito.
Puxavam-se as redes, e ali muitos peixes.
 
Nos domingos os parentes se visitavam,
iam nas casas dos outros,
as mães vestiam as crianças e iam visitar fulano lá em cima.
Viajavam um quilômetro, dois quilômetros, a pé,
para fazer a visita ou porque estava doente,
ou porque houve casamento, ou porque alguém morreu.
Se nascia, também. Estavam sempre se comunicando.
As pessoas, ao meu ver, eram mais amigas.

(Franklin Cascaes 1908-1983).

 
Talvez Franklin, Talvez. Fico me perguntando por que a modernidade traz consigo certos distúrbios sociais e humanos em forma de herança para nossa sociedade. Sigo com minha opinião que a expansão do sistema capitalista, esse neoliberalismo como ideologia de massa, atrapalha a convivência entre seres humanos, e diminui o calor. Estes dias discutia isso, e escrevendo este post lembrei que foi abordado a questão das culturas antigas e da ideologia. Acho que nossos pais tinham mais ideologias do que temos hoje.

Bom, deixo isso para discussão, pois o principal é exaltar que sempre há tempo de reunir os amigos, compartilhar a companhia e porque não com um bom prato. Daí, me ocorreu a idéia de falar sobre a Tainha, este peixe que dificilmente comemos sozinho, já repararam?...eu não me lembro de tê-lo comprado pra comer só com meus pais ou sozinho... Sempre tem uma galera ao redor do peixe!!!

A Tainha é uma atração e, a pesca uma atração à parte (Sabiam que existem mais de 40 espécies?). A partir da segunda quinzena do mês de maio, placas são fixadas nas praias catarinense informando a proibição da prática do surf em virtude da chegada dos cardumes de tainha. Vinda da Lagoa dos Patos, no estado do Rio Grande do Sul, a tainha sai em busca de águas mais quentes para desovar. De acordo com os pescadores, o horário que a tainha chega à costa é por volta das 4 horas da manhã. É também neste horário que os chamados olheiros ou vigias sobem os costões da praia para observar a chegada e informar aos pescadores que aguardam na praia.
 
Os olheiros geralmente acenam e apontam com um pano o local exato do cardume que se caracteriza por uma grande mancha vermelha. Em média, sete homens aguardam na praia este sinal para colocarem as canoa no mar. Eles ainda esperam que o olheiro, através de apitos, informe a hora exata para iniciar a pesca. São três silvos, até o lançamento das redes. A rede é lançada ao mar e a canoa faz uma volta ao redor do cardume. Somente quando a canoa sai da água que é hora de puxar a rede.

É neste momento que toda ajuda é bem vinda. Pescadores, turistas, pessoas da comunidade ou passantes agarram um pedacinho da rede e em sincronia a puxam para a praia. Nesta modalidade de pesca, chamada artesanal, a rede é produzida pelos próprios pescadores e tem aproximadamente 600 metros. Depois de desenroscar as tainhas da rede, os chamados ajudantes são recompensados com um belo peixe. Pescadores dizem que é possível retirar em um só lance mais de 120 mil tainhas. Como sabemos histórias de pescadores são meio fantasiosas, mas arquivos dos jornais locais de Florianópolis, provam que no ano de 1984 mais de 180 toneladas de tainhas foram pescadas na praia dos Ingleses.

A temporada de pesca da tainha vai até o dia 15 de julho e quem visita Florianópolis nesta época tem o privilégio de observar e participar dessa pratica artesanal milenar e ainda voltar com muitas histórias de pescador para contar. É por lá que mora um grande amigo meu, e se der certo, este ano vou puxar a rede lá nas bandas do Santinho. Quem se habilita? Por enquanto elas ainda estão tímidas, mas tenho certeza que irão dar o ar da graça logo...no mar e na mesa. No blog http://www.tainhanarede.blogspot.com/ , tem atualizações sobre a temporada 2010 da pesca, além de entrevistas com os pescadores, cultura local, receitas e muita informação.

Na região norte de Santa Catarina, também há uma celebração sobre este período de fartura do peixe. A Festa da Tainha, que acontece no Balneário da Barra do Sul, está na sua 16º edição, sempre trazendo atrações musicais diversificadas, além da culinária da região, através de uma praça de alimentação e stands comerciais. Acho que dá pra achar uma tainha defumada por lá (essa iguaria é muito gostosa), então vale a pena conferir. A festa começa dia 22 de junho e vai até dia 26.
 
Esperando por elas, coloco aqui uma receita que fizemos ano passado lá em Canasvieiras, regado a um ensaio de rock n’ roll da melhor qualidade (o repertório pelo menos era, mas a banda criada naquele dia, ainda precisa ensaiar outras vezes...). Você vai precisar de 1 Tainha aberta, suco de 1 limão, sal, alho, manteiga sem sal. Com uma garrafa de vinho tinto aberto, todos os copos cheios, um brinde à vida, à amizade, prepare desta maneira: Abra a tainha rente à espinha dorsal, passe sal e um pouco de manteiga e leve para assar, sempre regando com um molho de suco de 1 limão, sal a gosto e um dente de alho amassado. Regue sempre. Seu copo também sempre cheio do néctar.
 
Um segredo: Para cada palmo da tainha aberta (meça do rabo até a cabeça), asse por 10 minutos (ou seja, uma tainha de 2 palmos deve ficar 20 minutos assando)
 
De acordo com a informação de meu grande amigo Dudu Mira, o Beto do Box 32, comenta que qualquer Merlot combina com a tainha. Mãos à obra na caça do bichinho e sucesso no preparo para a sua turma. Até!





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